O Arquitecto, a Ordem e o País
É com grande interesse que vejo crescer na blogosfera o debate relativo ao estágio profissional exigido pela Ordem dos Arquitectos, sempre com esta a ser o alvo preferido da maior parte dos comentários de desagrado. O que me parece é que, na vaga de fundo, a OA é pura e simplesmente o bode expiatório mais à mão para descarregar todas as frustrações naturais inerentes ao facto de ser arquitecto ou estudante de arquitectura num país como Portugal.
Encaremos o problema de frente. Há, efectivamente, arquitectos em demasia neste momento, neste país. Agarrados a um ideal artístico-técnico de sucesso, a um exponencial crescimento da mediatização da profissão, milhares de jovens tomaram a opção de "seguir arquitectura" porque lá estava o sucesso, a realização pessoal, o estilo, o dinheiro, quem sabe o pritzker. Volvidos os 5, 6, 7 anos de curso, as coisas não são bem assim. O panorama profissional é péssimo. São a geração dos recibos verdes, da segurança social em atraso, são as constantes cobaias transitórias de maus modelos de gestão dos arquitectos empregadores, são os que trabalham 8 a 10 horas por dia "porque tem que ser - arquitectura é assim" - , são os que fazem directas, que não conseguem uma vida pessoal que se compatibilize com estas loucuras laborais, e que vivem em casa dos pais até aos 45 porque a sua profissão não permite qualquer tipo de estabilidade financeira para pagar contas e são os que vendem a alma aos alvarás de empresas de construção porque são estas que dão mais garantias da "mesada financeira que eu sempre sonhei e nunca tive". As excepções são as famílias ricas, empreendedoras e que apostam nos benjamins criativos para a concretização dos seus sonhos imobiliários.
Vários factores levaram a esta situação.
.1 A criação desenfreada de Licenciaturas de Arquitectura pelas universidades privadas - é um curso muitíssimo barato de criar.
.2 A "moda da arquitectura" que se abateu sobre o portugal já europeu de Cavaco Silva. Com a mania de sermos civilizados aliado às caganças provincianas do "shor engenheiro, shor doutor e shor arquitecto", quem queria artes ia para arquitectura, que é o que dá dinheiro, que é o que interessa nesta europa.
.3 A mediatização da arquitectura.
.4 A crise no sector da construção
A ordem, perante esta situação que já se ameaçava há uns anos e que infelizmente terá tendência a piorar, decidiu tentar controlar de alguma maneira o descalabro que são os cerca de 3000 novos profissionais por ano, sem que o mercado, de todo, o exija. Assim, a famigerada creditação e reconhecimento das universidades vem, e bem, separar o trigo do joio relativamente à formação dos arquitectos em Portugal. Agiu mal a Ordem no timing e na aplicação do RIA. Era de bom-senso avisar os estudantes das universidades não creditadas - e justificando a falta de creditação - que se iam sujeitar a um exame de admissão no final do curso, para depois poderem realizar o estágio profissional. Para os alunos já inscritos a admissão enquanto membro estagiário seria, obviamente, imediata até à data da conclusão da licenciatura. Nunca percebi a "pressa" e revoltam-me os milhares de alunos de 3º, 4º e 5º ano nessa situação e que, de um momento para o outro, viram o seu direito à exerção profissional sujeito a um exame. Aos novos alunos, a escolha da universidade já seria mais ponderada consoante a creditação ou não.
A questão do estágio profissional exigido pela ordem dos arquitectos não é, de todo, o problema e sim alguma solução relativamente à grande maioria de cursos que abundam e que não têm sequer um estágio curricular no programa. O problema, esse sim, é a natureza humana dos patronos sem qualquer tipo de consciência laboral (pudera, toda a vida foram patrões - são do bom tempo), que aproveitando-se da obrigatoriedade do estágio, colocam mão de obra em frente a um computador, 8 a 10 horas por dia, sem qualquer tipo de compensação financeira e, mais grave ainda, não fazendo um acompanhamento pedagógico da evolução técnica e profissional do estagiário.
A Ordem pensou bem mas agiu mal, mas o facto é que este debate constante e o crescimento do desprestígio da classe podem evitar tragédias maiores que são mais 15.000 arquitectos, daqui a cinco anos, desencantados com a profissão e com a vida. Vão a tempo de pensar bem, porque nem tudo são rosas no reino dos desenho.
É com grande interesse que vejo crescer na blogosfera o debate relativo ao estágio profissional exigido pela Ordem dos Arquitectos, sempre com esta a ser o alvo preferido da maior parte dos comentários de desagrado. O que me parece é que, na vaga de fundo, a OA é pura e simplesmente o bode expiatório mais à mão para descarregar todas as frustrações naturais inerentes ao facto de ser arquitecto ou estudante de arquitectura num país como Portugal.
Encaremos o problema de frente. Há, efectivamente, arquitectos em demasia neste momento, neste país. Agarrados a um ideal artístico-técnico de sucesso, a um exponencial crescimento da mediatização da profissão, milhares de jovens tomaram a opção de "seguir arquitectura" porque lá estava o sucesso, a realização pessoal, o estilo, o dinheiro, quem sabe o pritzker. Volvidos os 5, 6, 7 anos de curso, as coisas não são bem assim. O panorama profissional é péssimo. São a geração dos recibos verdes, da segurança social em atraso, são as constantes cobaias transitórias de maus modelos de gestão dos arquitectos empregadores, são os que trabalham 8 a 10 horas por dia "porque tem que ser - arquitectura é assim" - , são os que fazem directas, que não conseguem uma vida pessoal que se compatibilize com estas loucuras laborais, e que vivem em casa dos pais até aos 45 porque a sua profissão não permite qualquer tipo de estabilidade financeira para pagar contas e são os que vendem a alma aos alvarás de empresas de construção porque são estas que dão mais garantias da "mesada financeira que eu sempre sonhei e nunca tive". As excepções são as famílias ricas, empreendedoras e que apostam nos benjamins criativos para a concretização dos seus sonhos imobiliários.
Vários factores levaram a esta situação.
.1 A criação desenfreada de Licenciaturas de Arquitectura pelas universidades privadas - é um curso muitíssimo barato de criar.
.2 A "moda da arquitectura" que se abateu sobre o portugal já europeu de Cavaco Silva. Com a mania de sermos civilizados aliado às caganças provincianas do "shor engenheiro, shor doutor e shor arquitecto", quem queria artes ia para arquitectura, que é o que dá dinheiro, que é o que interessa nesta europa.
.3 A mediatização da arquitectura.
.4 A crise no sector da construção
A ordem, perante esta situação que já se ameaçava há uns anos e que infelizmente terá tendência a piorar, decidiu tentar controlar de alguma maneira o descalabro que são os cerca de 3000 novos profissionais por ano, sem que o mercado, de todo, o exija. Assim, a famigerada creditação e reconhecimento das universidades vem, e bem, separar o trigo do joio relativamente à formação dos arquitectos em Portugal. Agiu mal a Ordem no timing e na aplicação do RIA. Era de bom-senso avisar os estudantes das universidades não creditadas - e justificando a falta de creditação - que se iam sujeitar a um exame de admissão no final do curso, para depois poderem realizar o estágio profissional. Para os alunos já inscritos a admissão enquanto membro estagiário seria, obviamente, imediata até à data da conclusão da licenciatura. Nunca percebi a "pressa" e revoltam-me os milhares de alunos de 3º, 4º e 5º ano nessa situação e que, de um momento para o outro, viram o seu direito à exerção profissional sujeito a um exame. Aos novos alunos, a escolha da universidade já seria mais ponderada consoante a creditação ou não.
A questão do estágio profissional exigido pela ordem dos arquitectos não é, de todo, o problema e sim alguma solução relativamente à grande maioria de cursos que abundam e que não têm sequer um estágio curricular no programa. O problema, esse sim, é a natureza humana dos patronos sem qualquer tipo de consciência laboral (pudera, toda a vida foram patrões - são do bom tempo), que aproveitando-se da obrigatoriedade do estágio, colocam mão de obra em frente a um computador, 8 a 10 horas por dia, sem qualquer tipo de compensação financeira e, mais grave ainda, não fazendo um acompanhamento pedagógico da evolução técnica e profissional do estagiário.
A Ordem pensou bem mas agiu mal, mas o facto é que este debate constante e o crescimento do desprestígio da classe podem evitar tragédias maiores que são mais 15.000 arquitectos, daqui a cinco anos, desencantados com a profissão e com a vida. Vão a tempo de pensar bem, porque nem tudo são rosas no reino dos desenho.
4 comentários:
pobre do shor arquitecto... ou melhor arquitecto do shor pobre!
8 a 10 horas por dia!... muito eufemistica, esta estimativa.
Mas nao concordo practicamente com nada do que escreveste (ja agora, quem?) e espero responder em breve. E linkar tambem!
abraço,
Caro Alexandre, aguardo então uma resposta.
Abraço, ns
Subscrevo! Concordo com o estágio para integração na via profissional do arquitecto que é bastante diversa da via académica, mas entendo que os moldes que reguladores dos estágios tem de ser dignificantes!Mais importante, não existe mercado para tantos arquitectos e cursos, é imperativo (e já é tarde) discutir o futuro dos arquitectos portugueses e informar quem ingressa nos vários cursos o que o futuro lhes reverva.
Para quando a coragem de abordar seriamente estas questões?
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