Hoje no JN vem um artigo sobre a Rua de Ceuta! Li e pensei, esta é definitivamente a "nossa" rua... Obrigado Losa!
Por todas as memórias, segue a justa homenagem:
"A Rua de Ceuta é um exemplo de bom gosto urbanístico, ou não tivesse sido gizada no Gabinete de Urbanização do Município, então liderado (1942) pelo jovem Arménio Losa que, animado pelos ideais da arquitectura moderna, se tornaria com o tempo numa das referências da sua arte a nível nacional. Mas é, também, o exemplo acabado da falta de arrojo. E de dinheiro. Na memória descritiva do empreendimento que deu azo à abertura daquela artéria está fundamentada a razão pela qual foi abandonado o projecto de Geovanni Muzio de prolongar a Rua de Elísio de Melo, que na altura parava na Rua do Almada, até à Praça de Guilherme Gomes Fernandes - implicava um volume avultado de expropriações - e define-se a sua directriz a partir da Praça de D. Filipa de Lencastre em direcção à Praça de Carlos Alberto. Arménio Losa e os seus colaboradores iam mais longe, ao propor que o novo arruamento deveria atravessar aquela praça em direcção ao Jardim do Carregal. Para eles, a nova Rua de Ceuta - cuja abertura só se iniciou em 1950 - justificava-se por razões "imperiosas de economia, salubridade e estética".Que a rua foi aberta e constitui hoje em dia uma lufada de ar fresco no conturbado miolo urbano do Porto não há que ter dúvidas. O pior foi o resto em 1952, o seu prolongamento até o Carregal, passando por Carlos Alberto e cruzando a Rua de José Falcão, foi protelado por razões financeiras e, no mesmo ano, Antão de Almeida Garrett, no Plano Regulador da Cidade do Porto, fixou a Rua de Ceuta tal como hoje se apresenta. Inacabada. E assim "morreu" a ideia de Arménio Losa e do seu Gabinete, tanto mais que o Plano Auzelle (1962) confirmou o destino amputado daquela artéria, que seria rematada no topo, segundo aquele urbanista francês, com um edifício em "U". Era o abandono de um travessamento da cidade que deveria começar na Praça dos Poveiros e terminar no Carregal.Admitiu-se, nos anos 70 do século passado, que o prolongamento da Rua de Ceuta poderia ir até Carlos Alberto ou, de forma modesta, até ao Largo do Moinho de Vento, chegando mesmo a Câmara a autorizar a construção de dois imóveis que preencheriam o gaveto com a Rua de José Falcão. Mas nada mais foi decidido quanto à continuação propriamente dita. O certo é que até Carlos Alberto já não poderá ir na medida em que para isso acontecer deveria ser demolido um dos prédios que vai ser alvo de reabilitação pela SRU - precisamente aquele onde esteve sediada a sede de campanha de Humberto Delgado, o general sem medo... Esta história faz parte do imaginário da minha juventude na medida em que meu pai, que também foi jornalista, ma contou por mais de uma vez. Pelo menos sempre que passávamos, a caminho de casa, na Rua do Almada. Ora acontece que um dos opúsculos do Guia da Arquitectura Moderna (Porto, 2001) é dedicado inteiramente à Rua de Ceuta, com uma abundância de pormenor notável. Escrito por Francisco Barata Fernandes e por Rui Pinto, este trabalho, do qual retirei muitos dados para esta prosa, acaba de forma surpreendente "Actualmente, em 2001, retoma-se o seu prolongamento para poente: constrói-se um túnel na Praça de D. Filipa de Lencastre que ligará esta ao Jardim do Carregal. Atravessará finalmente a Praça de Carlos Alberto mas a duas dezenas de metros de profundidade". Et voilá... Só agora o túnel está a chegar, não ao Jardim do Carregal, mas à Rua de D. Manuel II, no termo de uma polémica de se lhe tirar o chapéu. E ainda dizem que o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita..."
Rua de Ceuta, Jornal de Notícias, 3 de Abril de 2006
3.4.06
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2 comentários:
e, por elegância, o autor do respectivo texto, não ? Creio que é o Carlos Teixeira, jornalista.
tentei saber... mas a edição online por vezes tem destas faltas de elegância! Ao autor do mesmo as minhas sinceras desculpas!
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